quinta-feira, 30 de abril de 2015

Luta antimanicomial ganha voz em caminhada por ruas de Lajeado - Em torno de 250 pessoas participaram do ato em defesa do tratamento de saúde mental em liberdade

















Crédito da foto: Juliana Bencke

Lajeado - Inclusão. Não ao preconceito psicológico. Fim dos manicômios. Pedidos como esse, expressados em faixas e cartazes, estiveram em evidência na manhã de ontem, durante a caminhada do Encontro dos Militantes da Luta Antimanicomial do Vale do Taquari. Em torno de 250 usuários, familiares e funcionários de centros de Atendimento Psicossocial (Caps) de municípios da região percorreram ruas centrais de Lajeado e convidaram a comunidade a refletir sobre a importância do tratamento dos pacientes em liberdade, por meio de acompanhamento profissional e oficinas terapêuticas. 

Em vigor desde 2001, a Lei federal nº 10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, estabelece o tratamento da saúde mental pautado na humanidade e no respeito, visando à reinserção social, em vez da internação em manicômios. "Queremos reafirmar essa forma de cuidado humanizado, olhando a pessoa como um todo, cuidando dela perto da família, dentro de sua comunidade, para que, quem sabe, ele possa até mesmo voltar a estudar e trabalhar", explica a psicóloga Angelice Graff, que atua nos Caps de Muçum e Bom Retiro do Sul. 

Com acompanhamento no Caps de Encantado há cinco anos, Giovane Bertoldi (39) é um militante na defesa do tratamento fora dos manicômios. Portador de esquizofrenia, ele já esteve internado, mas, hoje, realiza acompanhamento em oficinas de convivência e cultura do Caps. O centro também acolhe sua mãe, com suporte psicológico. 

Durante a manhã de ontem, Bertoldi compartilhou sua experiência com os participantes da caminhada. "Caps é amor. É muito diferente de um manicômio, onde somos tratados como bichos. Eu já fui e não quero voltar", garante. "Quanto mais Caps, mais cura", defende.



Sensibilização

Além da luta antimanicomial e da valorização dos Caps, a manifestação teve o intuito de mostrar a importância dos recursos para atendimento de saúde mental. Enquanto percorreram o trajeto do Caps Adulto, na Rua Saldanha Marinho, até o Colégio Estadual Presidente Castelo Branco (Castelinho), integrantes da passeata distribuíram panfletos sobre o assunto, a fim de mostrar à sociedade que a saúde mental é um assunto que diz respeito a todos. 

Para Angelice, é preciso problematizar a questão. Segundo ela, doentes mentais ainda são alvo de preconceito - especialmente, os dependentes químicos. "A sociedade reduz a pessoa à própria doença, mas a pessoa é muito mais do que isso. É um ser humano complexo", observa.



"Mudou muita coisa na minha vida"

Foi no Caps Adulto Conviver em Liberdade, de Lajeado, que Iloni Boiarski (60) reencontrou o sentido da vida. A depressão, após a perda de um filho, levou a moradora do Bairro Universitário ao "fundo do poço". Por indicação de uma amiga, procurou o Centro de Atenção Psicossocial, há três anos. "Mudou muita coisa na minha vida, para melhor", conta.


As tardes de quinta-feira são sagradas para a idosa: é quando ela participa das oficinas de canto, além de momentos de conversa com profissionais do centro. "Participo de tudo. Nunca falto", afirma. Para Iloni, o atendimento no Caps garantiu não apenas a melhoria da sua saúde, mas também a coragem necessária para lidar com o alcoolismo do marido. Há duas semanas, ele também faz tratamento para a dependência.

Iloni é um dos 1,3 mil usuários do Caps Adulto de Lajeado. Conforme a psicóloga e coordenadora do centro, Adriana Rossetto Dallanova, por mês, são realizados 3,4 mil atendimentos no local, entre consultas, oficinas e atividades terapêuticas. No Caps Álcool e Drogas (AD), chegam a 2,2 mil por mês.



Saiba mais

Após a caminhada, o Encontro dos Militantes da Luta Antimanicomial do Vale do Taquari seguiu com programação no auditório do colégio Castelinho e na Praça da Matriz, com rodas de conversa e relatos de pacientes. Uma "carta-convite para militantes" foi entregue a pessoas da comunidade, a fim de mobilizá-las para participar do Pré-Encontro Regional de Militantes da Reforma Psiquiátrica Vale do Taquari, com data ainda não divulgada. Em 18 de maio ocorre mais uma caminhada, integrando a programação da 11ª Semana de Saúde Mental de Lajeado.



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Crédito da notícia: Juliana Bencke
Última atualização: 24 de abril de 2015 às 10h30min













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